Chegar em casa, apagar as luzes, acender a luz negra e observar os peixes em seu aquário brilharem. Se essa é a sua idéia de relaxamento, você é o consumidor ideal da Taikong Corporation, empresa de biotecnologia taiwanesa que desenvolveu o primeiro bicho de estimação geneticamente modificado: o peixe-agulha fluorescente.
Sob o nome de "Pérolas Noturnas", os peixinhos verdes, da espécie Oryzias latipes, foram expostos ontem na Bio Taiwan 2006, que tem como lema "abraçar novas vidas biotecnológicas, abraçar novos negócios em biotecnologia". A exposição, que acontece entre 27 e 30 de julho, traz as maiores novidades da indústria de biotecnologia no país, além de facilitar a troca de experiências entre as empresas nacionais e internacionais. No mercado desde 2003, eles entraram na lista de "invenções mais legais" do ano pela revista Time.
Desde então, a mercadoria vem ganhando cada vez mais espaço. Willis Fang, presidente da Taikong, acredita que o apelo do produto pode ir além da pesquisa, e já disponibilizou uma linha de acessórios para o animal, como aquários com luz negra e corais de plástico e comida fluorescente. Já em 2004, a empresa afirma que os pedidos de compra do animal chegaram a 200 milhões de unidades. Ambientalistas do país, porém, criticaram a mercantilização precoce, antes que mais estudos sejam feitos sobre o impacto do peixe no meio ambiente.
Mas as maravilhas biotecnológicas não estão restritas a Taipei. No Canadá, a Nexia Biotechinologias conseguiu injetar genes de aranhas em cabras, para produzir leite que pode ser refinado e transformado em material para suturas cirúrgicas e "proteção balística". Um outro grupo, também canadense, já patenteou um porco geneticamente modificado, cujas fezes contêm menos fosfatos, um poluente natural. Nos Estados Unidos, pesquisadores querem autorização para criar um salmão tamanho gigante, por meio da manipulação de hormônios.
É no país das oportunidades que também residem as maiores demandas por novidades desse tipo. Os peixinhos de Taiwan são vistos como uma mina de ouro por empresas especializadas, que afirmam ser grande o interesse dos consumidores americanos. Um empresário que vende peixes pela internet e tem seu escritório próximo a uma base militar ainda sonha com o futuro. "Meu Deus, se fizessem um nas cores vermelha, azul e branca, todos os Marines comprariam um", comemorou ele, em entrevista ao Wall Street Journal. Do outro lado do Atlântico, porém, os europeus vêem a novidade com outros olhos, já que a manipulação genética de animais é bastante criticada por lá.
A tecnologia por trás do peixe não teve como objetivo a comercialização, pelo menos no início. H.J. Tsai, professor da Universidade Nacional de Taiwan, descobriu o efeito quando estudava a modificação genética em peixes em uma pesquisa médica. A princípio, ele achou a novidade interessante, mas não pretendia capitalizar sobre eles, e sim usá-los como pequenos embaixadores da ciência. "As crianças vêem esses peixes e ficam fascinadas", diz.
A Taikong, porém, enxergou a mina de ouro por trás da descoberta e fechou um negócio com o professor. Hoje, os peixes são criados em um tanque em um subúrbio de Taipei, e foram 90% esterelizados por Tsai, para que não contaminem outros animais. Outros modelos já desenvolvidos são o peixe vermelho e dourado. Há dois anos, o número estimado de pedidos de compra de um deles chegou a 200 milhões, segundo a Taikong.